23 de setembro de 2013

Primeira Impressão

Trouble
Natalia Kills



Tenho pena de quem acha que o pop se resume aos nomes de artistas que estão no topo das paradas. Também tenho um pouco de raiva de quem acha que apenas sucesso é sinonimo de qualidade. Tenho desprezo para quem acredita que se um artista é tal "artista", ele (a) não é digno de ser considerado com um bom artista. Por causa disso tudo essas pessoas não se abrem para o novo, o diferente ou o pouco conhecido. Felizmente, para quem não tem essas amarras é recompensado com presentes em forma de música. O último presente que "recebi" foi o álbum da inglesa Natalia Kills, o acachapante Trouble.

Lançado no começo desse mês, Trouble já pode ser considerado como um dos melhores trabalhos pop do ano. Contudo, Natalia vai muito mais além do que apenas entregar um álbum pop de qualidade: Trouble é um manifesto em forma de música sobre os demônios e anjos que atormentam a mente da jovem cantora. Então, fique ciente que aqui ela vai muito, mais muito, mais muito além dos velhos e surrados clichês que o estilo oferece. Natalia coloca em suas músicas uma carga emocional tão forte e desconcertantemente tão sincera que poucas vezes o mundo pop presenciou uma artista abrindo seu coração e expondo seus medos, suas verdades, seus segredos mais profundos dessa maneira. Cada faixa parece um capítulo na vida de Natalia em que ela conta sua vida em composições viscerais e acachapantes que em nenhum momento perdem o DNA pop sabendo usar todos os clichês possíveis, os revirando do avesso para reconstrui-los de uma maneira surpreendente e impecável.  Ao lado do produtor Jeff Bhasker (que já tinha trabalhado com ela no seu primeiro CD Perfectionist de 2011), Natalia cria uma sonoridade única, original e que combina perfeitamente com as mensagens passadas por ela mesmo que seja de uma maneira completamente inusitada e inesperada. Como já comprovou com a sensacional Wonderland, Natalia é dona de uma sonoridade bem diferente do que estamos acostumados: bem mais madura com pitadas de uma atmosfera sombria e classuda devido as influências de rock, eletrônico underground, pop chiclete e até mesmo de R&B. Tudo isso é defendido com perfeição por Natalia em performances certeiras mostrando como uma cantora usa todas as suas qualidades em pró das canções em vez de tentar imitar outros estilos ou cantoras apenas para conseguir se encaixar no mundo mainstream. A viagem pelo mundo (des) encantado de Natalia começa já em um nível altíssimo com a sensacional Television seguido pela "tapa na cara" Problem, Controversy parece uma prima bem mais viciante de Gang Bang da Madonna e Rabbit Hole ao lado de Daddy's Girl são aulas de como fazer um pop chiclete. Enquanto isso, a sombria e triste Devils Don't Fly junto com a bonita e melancólica Marlboro Lights fazem a contrapartida perfeita com seus vernizes de "baladas românticas" com as batidas mais aceleradas das outras faixas. Só que nenhuma supera a genialidade do single Saturday Night (resenha a seguir). Até mesmo os momentos menos inspirados do álbum (Boys Don't Cry e Watching You) não comprometem o resultado final já que são acima da média da maioria das canções pop que estão tocando na rádio atualmente. Que pena de quem não vai ao CD já que está preso a pré-conceitos, pois Natalia Kills entregou um CD inesquecível.

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