19 de maio de 2014

Primeira Impressão

Caustic Love
Paolo Nutini


Caustic Love, terceiro álbum do inglês Paolo Nutini, não é um álbum perdido no tempo. É a noção de música boa hoje em dia que está perdida no mar de mediocridade que assola a música. Caustic Love é o álbum perfeito para o momento perfeito.

Para quem não conhece Paolo deve ser impactante ouvi-lo pela primeira vez: um jovem britânico de apenas 27 anos que tem a voz como se fosse um cantor negro vindo direto dos anos sessenta. Pode até parecer estranho falar assim, mas ouvir Paolo é como reviver momentos em que os "originadores" como Ray Charles ou Marvin Gaye ainda andavam sobre a terra. Só que a voz do cantor vai mais longe e não apenas emoldura a vibe vocal, mas de alguma forma ele consegue ter a mesma carga emocional. Se você acredita em reencarnação, então Paolo Nutini pode ser um caso a ser estudado. Suas performances em todo álbum são momentos impactantes de pura nostalgia com uma atmosfera reconfortante de saber que está ouvindo uma voz tão magistral sendo administrada por uma alma talentosa que consegue transmitir emoções viscerais e puras em suas essências. Paolo é versátil: vai do seu lado mais "pesado" em que usa o sua ronquidão de maneira acachapante que deixa quem ouve querendo mais e mais até mesmo o mais delicado usando seu falsete perfeitamente. Essa montanha-russa é uma viagem quase cósmica em que nenhum momento será perdido ou usado em vão. Cada nota saída da boca de Paolo é um prazer carnal, um remédio para almas carentes e um unguento para corpos cansados.

Se tudo isso não fosse o suficiente, Caustic Love é uma aula de como produzir um álbum. Paolo dispensa produtores badalados e produz o álbum ele mesmo ao lado de Dani Castelar. Então, não é surpresa de que o CD tenha a personalidade dele do começo ao fim, mas o que impressiona aqui é a extrema qualidade em que todos os aspectos estão estruturados. Como dito anteriormente, a sonoridade de Caustic Love é construída exatamente em cima do soul, funk e soul rock feito durante a década de sessenta e começo dos anos setenta. Repito: construída, não plagiada ou com cheiro de mofo. Muito pelo contrario: o som que Paolo faz é atemporal devido ao seu brilhantismo. Arrisco dizer que, se Caustic Love fosse lançado cerca de 40 anos atrás seria uma sucesso que hoje seria considerado um clássico. Há uma sensação de urgência nas canções, uma necessidade que parece ser transportada para fora das barreiras da música, algo tão pungente que faz qualquer pessoa ser arrebatada. Em trabalhos de instrumentalizações que não deixam em nada devendo para trabalhos clássicos da soul music, Paolo Nutini emoldura suas crônicas sobre amor e a vida que fecham o pacote de maneira magistral em momentos que vão levar suas emoções ao um estágio quase espiritual. Não há como falar mais especificamente de várias músicas do álbum, mas sou obrigado a destacar um dos momentos mais poderosos na música que eu já ouvi: Iron Sky, um hino à esperança na raça humana usando parte de um discurso de Charles Chaplin em O Grande Ditador. Genial apenas. Caustic Love mostra que música é imortal, não necessita de inovações tecnológicas ou ideias revolucionárias. Música precisa de talento. Talento como o de Paolo Nutini.

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