20 de julho de 2016

Antes Tarde do Que Nunca - Grandes Álbuns (Edição Neo Soul)

Maxwell's Urban Hang Suite
Maxwell



Durante boa parte dos anos noventa, o mundo da música nos Estados Unidos foi comercialmente dominado por um estilo de música: o R&B. Remodelado e com uma pegada vendável, o gênero viveu uma nova época de ouro depois da explosão da Motown nos anos sessenta. Na metade da década de '90, porém, o gênero começou a desgastar com o aparecimento de novas ondas como, por exemplo, o pop teen e o hip hop, mas, principalmente, devido ao ciclo de criação se esgotando. Quase que organicamente o gênero começou a se regenerar e ganhar fôlego para reinar mais algum tempo. Todavia, essa regeneração não foi importante para aquele momento, mas foi o ponto de inicio para o que hoje chamamos de neo soul. Ou seja: essa regeneração foi, na verdade, uma verdadeira revolução musical que ditou as regras para dezenas de novos artistas que surgiram depois, ajudou a repaginar a sonoridade de vários artistas consagrados e criou um novo gênero musical. Sem esse momento na música não teríamos, provavelmente, artistas como Frank Ocean, The Weeknd, FKA twigs, Janelle Monáe e, até mesmo, os últimos álbuns da Beyoncé e da Rihanna. A quem devemos agradecer por esse feito? Três nomes são apontados como os "responsáveis" pelo neo soul: D'Angelo, Erykah Badu e Maxwell. Esse especial irá trazer a resenhas dos álbuns desses três nomes que foram considerados os marcos originais do neo soul. Como o Maxwell lançou recentemente um novo álbum (em breve a resenha), irei começar a resenha do seu debut, o genial Maxwell's Urban Hang Suite.

Dentro da linha cronológica, Maxwell's Urban Hang Suite foi o segundo álbum lançado em 1996 entre a "trindade do neo soul" (Brown Sugar do D'Angelo foi lançado um ano antes e Baduizm da Erykah Badu um ano depois). Inicialmente, o álbum não foi um sucesso imediato, pois alcançou o 37° na semana do seu lançamento. Entretanto, com o excepcional acolhimento pela critica especializada em geral e o crescente popularidade entre o público, Maxwell's Urban Hang Suite obteve uma vendagem de cerca de um milhão de cópias nos Estados Unidos. Além, claro, de influenciar por diversas razões o R&B feito dali por diante. 

Ao contrário do que era feito naquela época, Maxwell teve nas mãos toda a direção do álbum, sendo o principal compositor e produtor. Dessa maneira, o artista ajudou a relembrar o status do cantor de R&B com um musico de verdade e, não apenas, como uma voz emprestada para que outros artistas pudessem criar a sonoridade. Por causa disso, Maxwell conseguiu a autonomia necessária para criar a sua sonoridade e dar para Maxwell's Urban Hang Suite a ousadia necessária para quebrar as barreiras do R&B feito naquela época. Uma sonoridade que ao mesmo tempo é um avanço e um olhar para o passado. 

Para a criação de Maxwell's Urban Hang Suite, Maxwell buscou inspiração no soul music feito nas décadas de setenta e oitenta e adicionou uma gama de novas camadas como, por exemplo, toques de jazz, funk e outros subgêneros do R&B. Nomes como Prince e Marvin Gaye são citados como grandes influências aqui, mas  Maxwell's Urban Hang Suite não se limita em apenas revisitar o gênero. As construções de cada canções são intricadas e complexas teias sonoras que aprimora as instrumentalizações realizadas em Maxwell's Urban Hang Suite para dar conta do grande número de adiçõesE apesar da inclusão de tantas nuances, o trabalho nunca sofre da falta de personalidade ou da indecisão por qual caminho seguir, pois o álbum é uma viagem em uma atmosfera sexy e romântica com batidas envolventes e deliciosamente comedido. Não espere encontrar faixas feitas para dançar loucamente, mas canções perfeitamente produzidas para fazer amor durantes horas. E, novamente, Maxwell voltou ao passado para escrever o futuro.

Maxwell's Urban Hang Suite é um álbum conceitual assim como fez nos anos setenta Marvin Gaye ao lançar Here, My Dear. Maxwell conta a história das desventuras sobre toda a jornada que é se amar: desde os primeiros encontros e a paixão fulminante até o seu final dramático, passando por tudo que estre esses dois pontos. A sequência da história fica bem clara na evolução das canções ao longo do álbum e as leves mudanças em suas sonoridades, mas, principalmente, devida o ótimo trabalho de composição. Maxwell ao lado de nomes como Stuart Matthewman (integrante da banda Sade), Leon Ware (que trabalhou com Marvin em seu último trabalho), Itaal Shur (vencedor de vários Grammys), entre outros mostram que o simples bem feito pode ter efeito melhor que complicadas construções linguísticas: as letras em Maxwell's Urban Hang Suite são de uma simplicidade comovente e de uma eficiência retumbante ao dar vida na narração proposta pelo artística, sendo verdadeiros guias de sentimentos. Nada disso seria o mesmo, porém, sem a presença literal de Maxwell. Além de ser o nome responsável pelo corpo e alma de Maxwell's Urban Hang Suite, o artista dá todo o seu coração em performances que posso classificar como a verdadeira perfeição. Dono de um timbre que é capaz de derreter chocolate apenas com uma nota, Maxwell mostra poder de um interprete primoroso em todos os sentidos e tecnicamente irrepreensível, principalmente ao usar o falsete que acabou virando uma das suas marcar registradas. Faixas como a solar Sumthin' Sumthin', a dançante Dancewitme, a orgástica e excitante 'Til the Cops Come Knockin', a linda e romântica Whenever, Wherever, Whatever e sensual Suitelady (The Proposal Jam) já podem ser consideradas como indissipáveis conhecer para quem realmente gosta de soul music. E no ano que completa vinte anos de seu lançamento, Maxwell's Urban Hang Suite já figura na lista de obras indispensáveis na história da música. 

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